terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Descarte humano

Hoje vivemos num mundo de individualismo e egoísmo. O ter é mais importante que o ser. Tudo, hoje, é descartável. Abre-se mão daquilo que já não é mais útil. Deixamos de ser pessoas para tornarmo-nos mercadorias. Qual é o seu preço? Quando algo não vai bem, o que é mais fácil? Descartar ou entender? Qual o próximo produto a ser consumido? Já não preciso mais deste. A locomotiva da contemporaneidade atropela aquilo que somos sem nem mesmo tentar frear. Sem opção, somos incluídos em um livro escrito a lápis, onde qualquer borrão pode ser apagado

sábado, 5 de março de 2011

Essa bagaça aqui tá abandonada...
postei.

domingo, 29 de agosto de 2010

Siga em frente

Siga em frente. Não se preocupe com os obstáculos no caminho, eles estão ali para serem superados. Siga em fente. O final é próspero e recompensador. Como a água que desce o rio sem olhar para trás, siga em frente. Nem sempre se acerta na escolha, mas quem saberia? Se soubéssemos das dificuldades de cada caminho, com certeza seria mais fácil de escolher um rumo. Mas o destino é uma incógnita. Oh algoz destino, por que brincas comigo? Siga em frente. Como se não houvesse futuro e nem passado. Será que ao menos teremos um final? Como personagens de livros, siga em frente. E quando chegar ao suposto final talvez esteja triste, pois a vida é boa. Siga em frente.

domingo, 20 de junho de 2010

Sobre a chuva e a morte

Nunca entendi muito bem qual a relação entre os dois, só posso dizer que é próxima e constantemente presente na minha vida. Talvez seja apenas coincidência, mas não acredito. Como que para lavar a alma, vem a chuva em um momento ruim: acho mais bonito pensar desse jeito.
E foi o que me ocorreu hoje, quando o céu resolveu chorar.
Pra constar, ontem o inigualável Saramago foi pra lá e se fizeram as nuvens. Não quero achar que é bobagem pensar dessa maneira (por mais que isso passe brevemente pela minha cabeça) mas a água vem por pessoas especiais. Pra mim, ele era especial por isso, por exemplo:

"86 anos
Dizem-me que as entrevistas valeram a pena. Eu, como de costume, duvido, talvez porque já esteja cansado de me ouvir. O que para outros ainda lhes poderá parecer novidade, tornou-se para mim, com o decorrer do tempo, em caldo requentado. Ou pior, amarga-me a boca a certeza de que umas quantas coisas sensatas que tenha dito durante a vida não terão, no fim de contas, nenhuma importância. E porque haveriam de tê-la? Que significado terá o zumbido das abelhas no interior da colmeia? Serve-lhes para se comunicarem umas com as outras? Ou é um simples efeito da natureza, a mera consequência de estar vivo, sem prévia consciência nem intenção, como uma macieira dá maçãs sem ter que preocupar-se se alguém virá ou não comê-las? E nós? Falamos pela mesma razão que transpiramos? Apenas porque sim? O suor evapora-se, lava-se, desaparece, mais tarde ou mais cedo chegará às nuvens. E as palavras? Aonde vão? Quantas permanecem? Por quanto tempo? E, finalmente, para quê? São perguntas ociosas, bem o sei, próprias de quem cumpre 86 anos. Ou talvez não tão ociosas assim se penso que meu avô Jerónimo, nas suas últimas horas, se foi despedir das árvores que havia plantado, abraçando-as e chorando porque sabia que não voltaria a vê-las. A lição é boa. Abraço-me pois às palavras que escrevi, desejo-lhes longa vida e recomeço a escrita no ponto em que tinha parado. Não há outra resposta."

(Do blog "O caderno de Saramago", em 16 de Novembro de 2008).

Ainda bem que as palavras são eternas, e o alívio da chuva também.

domingo, 30 de maio de 2010

Alice D.

Alice D. se descabelava em frente à TV quando imaginava o beatle John, segurando a sua mão.
Sem perceber o que fazia, Alice D. dançava sozinha no seu quarto oito dias por semana!

Alice D. não quer sair de casa, não quer estudar, não quer fazer mais nada.

Nunca quis ter um namorado, mesmo por que, se comparado ao beatle John, todos eram homens nada.
Aos dezesseis, fora internada, para tratar uma obsessiva compulsão, pelos reis do ié-ié-ié.

- Ei, doutor, o que há de errado em gostar de escutar os meus discos dos beatles?!? Não vejo nenhum problema nisso.
- Bem, garota, não é um mistério, seu distúrbio é um caso sério e esquisito. Receito tratamento imediato.

Alice D., beatlemaníaca, foi se tratar em uma clínica e fugiu pela janela do banheiro.


http://www.youtube.com/watch?v=jkSzTbvF_fI&feature=player_embedded#!
Fikdik (hauhua)

sexta-feira, 21 de maio de 2010

O Mentiroso

Me chamo Adamastor, tenho (tinha) 42 anos e nesse momento falo por intermédio de um médiun que está psicografando o que falo para ele.
Bom, o que gostaria de falar é que eu era um mentiroso. E o pior, um BOM mentiroso. Lembro como se fosse ontem a primeira mentira que contei. Uma mentira simples obviamente. Quebrei o vaso chinês que minha mãe tinha ganhado de um primo da esposa do filho do irmão de um tio dela que estava morando na China e, sem titubear, coloquei a culpa no meu irmão (gêmeo). Eu tinha em torno de 5 anos. Meu irmão levou a maior surra de todos os tempos. Naquele dia minha vida mudou. Tomei gosto pela mentira.
À medida que fui crescendo as mentiras foram melhorando. Eu aperfeiçoava minha técnica no espelho. Lembro que um dia meu irmão (gêmeo) me flagrou falando com o espelho, ele indagou o que eu fazia e eu menti dizendo que estava treinando para o recital de poesia que teria em nossa escola. Mentir, mentir, mentir..que obsessão.
Fiquei mais velho. Contava já 15 para 16 anos e as mentiras passaram a ser para conseguir mulheres. Inventei dezenas de nomes e personalidades diferentes. Em meu guarda-roupas havia separado por prateleira as roupas de cada um dos meus personagens. Me dava muito bem. Claro que as mentiras sobre minhas personalidades não funcionava com as garotas do colégio, pois elas me conheciam. Mas São Paulo é grande e me deu várias outras opções. Ainda assim, me dava bem com as meninas do colégio, pois elas adoram ouvir mentiras. "você é a mais linda da escola", "nunca senti nada assim por ninguém" "só você me faz assim" eram as preferidas delas.
Atingi a maioridade e já não podia mais assumir várias personalidades. Era hora de trabalhar. Bom, não custa nada acrescentar algumas coisas no currículo para ser chamado mais rapidamente por uma empresa. Ah claro, essas alturas do campeonato eu já fazia faculdade e pasmem: de Direito. (risadas)
Consegui emprego num escritório de advocacia e comecei a escrever os argumentos para meus chefes advogados. Nunca o escritório esteve tão bem. Mal havia me formado e já estava ganhando um alto salário. Graças às minhas mentiras.
E o tempo foi passando e os cabelos rareando. E cada vez mais as pessoas acreditavam em minhas mentira e até mais depois que eu fiquei calvo. Junto com a idade veio minha esposa. Bom, nem preciso dizer que ela passou a ser a pessoa para a qual eu mais mentia. Pobre Ana.
Certa vez, já tinha meus 40 anos, fui parado pela policia por dirigir em alta velocidade. O policial chegou ironizando que eu estava com pressa e sem perder tempo apliquei uma das minhas melhores mentiras. Desci do carro e disse que esperava que ele soubesse o que estava fazendo. Antes preciso explicar que várias vezes me falaram que eu era parecido com o Comandante Bassani (chefe principal da policia de São Paulo) por causa da careca e da barriga e eu por ser advogado sabia seu nome e o conhecia quase que intimamente. O policial me pediu a habilitação e eu me aproveitando da escuridão perguntei se ele não estava me reconhecendo. O policial recuou e disse gaguejando "Comandante Bassani?". Respondi "Imbecil, você não deveria nem estar na policia". Entrei no carro e fui embora chorando de rir, literalmente.
Bom, acontece que em toda minha vida eu me dei bem com minhas mentiras. Mas foi ela justamente que pôs fim à minha tão divertida vida. Estava sentado no bar do Tonho (minha mulher achando que eu tava no escritório ainda), bebendo minha cerveja enquanto via dois moleques jogar sinuca. Entrou um sujeito no bar e eu nem dei muita bola. Ele se sentou junto ao balcão e pediu uma cerveja. Passado uns 5 minutos se dirigiu até onde eu estava sentado e perguntou se eu era o Don Omar. Vi ali uma boa oportunidade para mentir. E respondi "claro, sou eu sim". O homem sacou uma pistola e me deu 5 tiros.
Como é engraçado o mundo. Nem sabia quem era esse tal de Don Omar, mas menti e morri. A mentira, a mentira, a mentira. Minha algoz amiga.

FIM!


Não, não é o fim.
Na verdade eu me chamo Antônio e essa história aí em cima é tudo mentira. Eu sou escriturário, nunca me casei, não tenho irmãos (muito menos gêmeo), e ainda estou vivo.

FIM!


Não, não é o fim.
É claro que a primeira história pode ser verdade e eu estar mentindo que sou escriturário e etc. AFINAL, eu sou O Mentiroso!


FIM! (agora é)

domingo, 2 de maio de 2010

Semântica

Matias não foi absolvido pelo júri, foi para o xilindró. E de tanto que absorveu as energias negativas do xadrez acabou acendendo. Ou acenderam ele, mortes em presídios são sempre deixadas de lado. Mas nesse lugar existe uma lei: para ascender tem que fazer justiça com as próprias mãos. A contravenção de Matias era grave. Assassinato. Mas ele sempre dava uma contraversão:
Há cerca de um ano e meio Matias caminhava durante a noite com Julio, seu melhor amigo. Quando estavam discutindo acerca de futebol e estavam a cerca de 10 metros do abandonado edifico Birigui ouviram um grito vindo de lá. Um grito frio, fino. Se assustaram, mas ao invés de correr e buscarem ajuda, entraram na construção. Subiram as escadas e encontraram em vez de uma mulher, vinte. Ao redor delas muitos círios e nas roupas e paredes símbolos. Depois Matias descobriu que eram símbolos sírios. Agora todas as mulheres riam, parecia um concerto, uma ária. E os dois homens parados, gelados, as mulheres sinistras cercavam a área. Sabiam que não havia mais conserto. E sem cumprimentar e nem medir seus comprimentos as mulheres voaram com voracidade para cima dos amigos. Agarraram-lhes pela garganta e arrocharam. Matias percebeu que seu amigo estava arroxeando. Já não sabia mais o que fazer, sentia que perdia a consciência. Então viu uma das mulheres que até então passava despercebida, era um mulher que diferia das demais. Ela estava parada e com roupas de cor diferente. Matias pensou que devia fazer algo para remediar o fato de terem sido tão desapercebidos e gritou. Reuniu as ultimas forças e gritou para a mulher, pedia que parassem. A mulher olhou e deferiu, mandou que as outras parassem. Matias e Julio se olharam surpresos. Demoraram um pouco para recuperar o fôlego. Os dois só pensavam em correr e quando Matias ia espiar a porta por cima do ombro, a mulher que antes fora a salvadora infligiu-lhe com um chicote e disse que ele estava infringindo as regras. "Se espiar novamente, expiará as consequências de seu ato".
- Mas você tem sorte, Matias. - disse a mulher - Não queremos sua vida, queremos a de Júlio.
- Quem são vocês? - Perguntaram os dois ao mesmo tempo.
- Somos o seu pior pesadelo, Julio. Você devia ter sido mais esperto e não ter possuído tantas mulheres.
Isso era fato. Realmente Julio era experto em ir para a cama com as mulheres.
- Ma-as o que-e vocês que-rem? - perguntou Julio. Sua voz estava trêmula, assim como seu corpo inteiro
- Você pagará por ser incontinente. E será incontinenti.
Matias, você será apenas o espectador. E eu apenas expectarei.
- Incipientes, venham para o meu lado - ordenou a mulher.
Duas das mulheres foram para o lado. Percebia-se que eram jovens.
- Matem-no! - ordenou com a voz eminente.
Matias temeu pelo que estava iminente. Pensou ser um sonho.
Quando as mulheres deram um passo à frente receberam uma ultima ordem.
- Não sejam insipientes, façam-no sofrer.
Na ânsia de salvar Julio, Matias tentou aduzir um argumento às mulheres:
- Não se deixem induzir. Vocês não precisam fazer isso.
Olhou para o lado e viu a chefa emitir uma gargalhada diabólica.
- Será que terei que imitir algo em sua boca, Matias? - perguntou em tom ameaçador.
Matias sentia medo, de uma forma que nunca havia sentido antes. Não aguentaria ver o amigo morrer. E o corpo como se soubesse, desligou. Matias estava estendido no chão, desmaiado.
Quando acordou, no mesmo lugar, ouvia os gritos de "parado, vagabundo". Não entendia o que estava acontecendo. Foi preso em flagrante pelo assassinato de Julio, mas antes de ser levantado bruscamente, sentiu algo fragrante em sua frente. Um lenço da cor da roupa da chefa e com o símbolo sírio. Nunca mais esqueceria aquele cheiro.


p.s: Olhe o que uma aula de semântica faz na pessoa, fiquei sequelado.
p.s2: Sugiro que leiam com um dicionário do lado.


abraços e beijos